Dia nacional da visibilidade lésbica

Visibilidade lésbica

O mês de agosto é muito importante para a comunidade lésbica, afinal esse mês é dedicado à reflexão da exclusão, da invisibilidade, mas também do orgulho em pertencer ao movimento lésbico.

O dia 29 de agosto de 1996 é considerado o dia nacional da visibilidade lésbica, pois foi nessa data que foi realizado no Brasil o 1º Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE), que discutiu temas como a organização coletiva, saúde e visibilidade. Além de ter sido marco para criação do Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, nos anos que se seguiram, o evento consolidou-se como um espaço para discussões e debates.

O dia da visibilidade lésbica e o dia do orgulho lésbico são datas distintas que tiveram um motivo específico para serem criados. Entenda a diferença!

Orgulho lésbico

O dia do orgulho lésbico é celebrado dia 19 de agosto, a data foi escolhida por ter sido a primeira grande manifestação de mulheres lésbicas no Brasil que aconteceu em 1983, em São Paulo, que ficou conhecido como o “Stonewall brasileiro” – referência ao bar Stonewall Inn, 28 de junho de 1969, marcado pela perseguição policial e repressão aos LGBTQIAP+ em Nova York. Ativistas do Grupo Ação Lésbica Feminista (Galf) ocuparam o Ferro’s bar, um ponto de encontro onde ativistas e artistas lgbt+ frequentavam

Essas datas são importantes para que as representatividades afetivas de pessoas lésbicas não sejam apagadas.

Heterossexualidade compulsória 

Vivemos em uma sociedade heteronormativa compulsória e patriarcal, ou seja, mulheres são levadas a acreditar que só serão validadas ao lado de um homem. Afinal, estar com homens pode significar ter vantagens sociais como ascensão financeira, apoio familiar, acesso a espaços privilegiados, entre outros.

O heterossexismo é um sistema que define as relações mulher / homem enquanto “naturais” e, por isso, superiores a quaisquer outras formas de relacionamento íntimo, especificamente relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo/gênero.

Todas as pessoas socializadas enquanto mulheres são atingidas pela compulsoriedade da heterossexualidade, uma vez que ela é imposta a nós como uma regra social.

Assim, o conceito de heterossexualidade compulsória descreve a pressão social e cultural, podendo ser sutil ou explícita, reforçando a ideia de que a heterossexualidade é a única orientação sexual aceitável e esperada. Pois, é vista como padrão em nossa sociedade.

A heterossexualidade compulsória também pode influenciar a maneira como as pessoas enxergam a si mesmas e suas identidades. Indivíduos LGBTQ+ podem sentir-se obrigados a esconder sua sexualidade ou identidade de gênero, com medo de enfrentar rejeição ou violência.

É importante reconhecer e questionar a heterossexualidade compulsória, buscando criar uma sociedade mais inclusiva, respeitosa e acolhedora para todas as orientações sexuais e identidades de gênero. Isso envolve a desconstrução de estereótipos, a promoção do respeito à diversidade e a luta contra a discriminação e o preconceito baseado na orientação sexual.

Frases que você nunca deve dizer a uma pessoa lésbica

“Você não parece lésbica”

“Não tenho nada contra, mas…”

“Tudo bem ser lésbica, só não precisa se beijar na rua…”

“Qual é o homem da relação?” Não existe o “homem da relação” em um relacionamento entre mulheres ou entre pessoas não binárias.

Sapatão enquanto identidade 

Partindo do ponto de vista que as identidades e sexualidades são múltiplas, é possível compreender que ser sapatão não é apenas uma orientação sexual, mas também uma forma de ser e (re)existir.

Ser sapatão não é só sobre quem você beija na boca, citando a pesquisadora Julianna Motter “uma ética sapatão é o compromisso de nos vincularmos a construção de um mundo melhor, através de políticas de aliança, contra distintas violências.”

“Lésbica”, “sapatão” e “bicha” tornaram-se gêneros designados, ou seja, foram impostos independente da vontade do indivíduo, e logo, assim como “homem” e “mulher”, sujeitos a serem rompidos.

Lesbianidades e não binariedade

É essencial refletir sobre as lesbianidades e a não binariedade, afinal nem toda pessoa lésbica é mulher. Monique Wittig, uma teórica feminista francesa, disse nos anos 70 que: “As lésbicas não são mulheres”. 

Adriana Azevedo, na entrevista de Azmina diz que a categoria sapatão é como um conceito político que também diz respeito a uma identidade de gênero.

Uma fala de Bê Carbonieri, que se define como sapatão agênere, sustenta o termo sapatão, enquanto uma identidade: “Nos meus 29 anos, mesmo não sendo uma mulher, eu tive uma experiência na sociedade enquanto sapatão. Muitas pessoas reduzem sapatão a duas mulheres, ambas com vaginas, se relacionando afetiva e sexualmente. Mas na minha experiência pessoal eu vivi algo diferente. A sociedade me atravessou como sapatão desde criança. Muito antes de andar de mãos dadas com mulher na rua, as pessoas gritavam pra me ofender, me chamando de sapatão. Sapatão pra mim, muito mais do que com quem eu me relaciono, tem a ver com como eu fui socializada, minhas pautas políticas, a comunidade onde eu cresci e me formei”. 

Bandeiras lésbicas

Existem diversas bandeiras lésbicas, cada uma com suas especificidades e polêmicas. Acima de tudo, é preciso compreender os contextos de cada uma, pois todo processo histórico nem sempre possui autores definidos. Trouxemos algumas. Confira:

As cores dessa bandeira representam diferentes elementos: o laranja representa a comunidade, a cultura e a história lésbica; o branco simboliza a pureza e a sinceridade; o rosa representa a sexualidade e o amor; e o tom mais escuro de rosa representa a diversidade das lésbicas.

Bandeira de Lábris 

A bandeira roxa com labrys é muito polêmica, o símbolo é amplamente usado por lésbicas separatistas dos anos 70, que remonta aos matriarcados celtas, como uma ferramenta de autodefesa e trabalho destas comunidades. O triângulo preto é criticado principalmente por lésbicas alemãs, pois era o símbolo colocado nas lésbicas nos campos de concentração. A cor roxa vem do feminismo, o que pode ser visto atualmente como uma reapropriação da “Ameaça Violeta/Lavanda” que lésbicas foram acusadas por heterofeministas que tentaram impedir a presença delas num congresso internacional do movimento feminista estadunidense em 1970. 

Bandeira Lipstick Lesbian

Foi projetada para representar lésbicas que possuem – segundo as normas de gênero da sociedade em que vivemos – uma aparência feminina, por isso o termo lipstick (batom) que remete a boca com batom e apresenta as cores dos batons tradicionalmente associados à feminilidade: rosa, vermelho e roxo.

É importante pontuar que novas bandeiras podem surgir para refletir outras identidades e experiências desse grupo, afinal a comunidade lésbica é diversa e está em constante evolução.

Lésbicas butch ou caminhoneiras

Butch é um termo da cultura estadunidense que equivale ao “caminhoneira” do português brasileiro. Tais termos expressam uma aparência de lésbicas não-feminilizadas.

Lesbocídio

Termos como lesbicidio e lesbofeminicidio também podem ser encontrados em textos sobre o assunto.

Lesbocídio é definido – de acordo com a enciclopédia mulheres na filosofia – do Blog da Unicamp – como um tipo de feminicídio, é a morte de lésbicas com forte componente ou motivada essencialmente por lesbofobia ou ódio (lesbo-ódio), repulsa e discriminação contra a existência lésbica.

Segundo os Dossiês de mortes e violências contra LGBTI+ no Brasil, em 2020 tivemos 10 lesbocídios; em 2021 foram 12 e, no ano passado (2022), foram 8 mortes. Segundo nossos Dossiês de mortes e violências contra LGBTI+ no Brasil, em 2020 tivemos 10 lesbocídios; em 2021 foram 12 e, no ano passado (2022), foram 8 mortes.

Você pode acessá-los ao clicar no menu: “Dossiês” -> “Observatório” e, por fim, clique no Ano que deseja saber o dados.

Dia Municipal de Enfrentamento ao Lesbocídio

Em 2022, a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) aprovou o Dia Municipal de Enfrentamento ao Lesbocídio com o intuito de que a data, 22 de junho, reúna campanhas e atividades para a erradicação da morte de lésbicas e para a construção de uma cultura de não violência contra esta população.

Interseccionalidade 

Interseccionalidade é um conceito muito discutido atualmente, principalmente dentro dos estudos sobre gênero, raça, classe social e outras identidades sociais.

A interseccionalidade considera diversas identidades sociais e sistemas que possuem relação com a opressão, com a discriminação. É necessário considerar uma variedade de elementos sociais e culturais distintos, como por exemplo, a mulher que é lésbica, negra, de áreas periféricas e de uma classe socioeconômica menos privilegiada. Percebe-se que há uma diferença significativa quanto a vulnerabilidade à violência quando comparado a outra mulher que é lésbica, branca e de uma classe com mais vantagens.

Perfis de lésbicas para você seguir

É muito importante seguirmos pessoas que compartilhem vivências parecidas com as nossas, mas também é essencial ouvirmos outras narrativas. Separamos alguns perfis de lésbicas para você seguir!

Kim (@kimbalaie) é criadora de conteúdo digital, fala sobre lesbianidade não-feminina, gênero e política.

Julianna Motter (@juliannamotter) é sapatã não binárie, professora e pesquisadora. Sua jornada envolve a pesquisa de lesbianidades e sapatonices, tecnologias de gênero e sexualidade, culturas digitais e éticas relacionais.

Jamine Miranda (@pretacaminhao) é criadora de conteúdo lesbianidade e mercado de trabalho vivência de lésbicas caminhoneiras.

@afrocaminhao é autora de diversos romances lésbicos com mulheres negras.

Dica cultural 

Os signos das minhas ex 

É a primeira web série brasileira LBT+ (lésbicas, bissexuais e transexuais) de comédia dramática disponível no canal da Ventarola filmes no YouTube, são sete episódios sobre a vida amorosa de Vitória, uma personagem de 28 anos. Confira o trailer aqui.

O dia nacional da visibilidade lésbica marca a luta permanente das lésbicas por uma sociedade com igualdade de direitos e respeito.

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