Se você acessou esse link através do panfleto que distribuímos no estádio do Avaí, saiba que é uma honra contar com a sua atenção na leitura deste texto tão importante. Independente se você é ou não LGBTI+, se tem um(a) filho(a) ou outro familiar que seja LGBTI+ ou simplesmente entrou aqui neste link por curiosidade, temos certeza que essa leitura pode tirar muitas dúvidas a respeito desse tema.
Decidimos criar essa campanha de combate à LGBTIfobia nos estádios, por diversos motivos, entre eles, o fato de o Brasil ser um dos países com o maior índice de violência contra essa população; o fato de ser comum ouvir gritos homofóbicos em alguns estádios de Santa Catarina; e o fato de que nosso estado já se consolidou no cenário do futebol brasileiro, estando representado nas principais categorias e competições desse esporte que mobiliza multidões, desperta paixões e influencia milhares de pessoas todos os dias. Tamanho potencial de engajamento das pessoas, pode ser um poderoso instrumento para a promoção da igualdade, do respeito e do combate aos preconceitos que se fazem presentes em nossa sociedade.
Nosso estado possui uma imensa população LGBTI+ que é apaixonada por futebol, prova disso é que temos diversos clubes LGBTI+ que disputam campeonatos amadores em diversas regiões do país. Contudo, a população LGBTI+ muitas vezes se sente repelida dos estádios, por conta de manifestações preconceituosas que são utilizadas como formas de ofensa contra jogadores, dirigentes e árbitros.
Entender que essas violências afastam uma parcela considerável de torcedores é o primeiro passo para que possamos entender que isso também impacta a receita dos times. Quando o time arrecada menos, terá menos recursos para investir na melhoria de sua estrutura e na contratação de profissionais, o que impacta sua competitividade nos campeonatos. Neste sentido, entendemos que promover o respeito à diversidade pode contribuir para que os estádios se tornem mais acolhedores à população LGBTI+ e melhorar, inclusive, os números de torcedores que frequentam os jogos e se associam aos times.
Foi por isso que criamos a campanha “A PAIXÃO NOS UNE, O RESPEITO NOS FAZ GIGANTES”. Trata-se da busca por respeito e por um tratamento digno dentro dos estádios, afinal, somos uma população apaixonada por esse esporte, por nossos times e queremos que esse amor seja recíproco. Neste sentido, o Avaí decidiu abraçar essa campanha para conscientizar sua torcida apaixonada. Ver as cores do nosso movimento sendo acolhidas pelo Leão da Ilha é motivo de muito orgulho.
Além do mais, sabemos que essa campanha pode alcançar pais e mães que estão passando por esse momento junto aos seus filhos ou filhas. Infelizmente, muitos jovens são violentados e expulsos de casa, por famílias que não aceitam sua orientação sexual ou identidade de gênero. Famílias que optam por renunciar ao amor incondicional, por conta de visões religiosas ou entendimentos equivocados sobre nossa existência. Se a nossa campanha fizer você pensar a respeito desse tema, nós já teremos alcançado o nosso objetivo inicial.
A seguir, preparamos uma série de perguntas e respostas que podem ajudar você a entender melhor o que é ser LGBTI+:
O que é orientação sexual e identidade de gênero?
A orientação está ligada aos relacionamentos afetivos e sexuais. Heterossexuais se atraem por pessoas do gênero oposto, homossexuais se atraem por pessoas do mesmo gênero, já aquelas pessoas que se interessam por indivíduos do mesmo ou de qualquer outro gênero são consideradas bissexuais.
A identidade de gênero se refere a como a pessoa se identifica, sendo mulher ou homem. O cisgênero é quem se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascimento. O transgênero é o oposto do cis, aquele que se identifica com um gênero diferente do que lhe foi dado ao nascimento. Nestes casos, as pessoas tem o direito garantido por lei de acessar o processo transexualizador através do SUS, para fazer readequação sexual.
Quem não se identifica nem como homem e nem como mulher são chamados de não binários. No entanto, pode acontecer das pessoas assexuais sentirem atração por um dos gêneros (ou ambos) em situações específicas.
O que significam as letras LGBTI+?
O L é de LÉSBICA – mulheres que sentem atração afetiva/sexual por outras mulheres;
O G é de GAY – homens que sentem atração afetiva/sexual por outros homens;
O B é de BISSEXUAL – pessoas que sentem atração afetiva/sexual por pessoas do gênero masculino ou feminino;
O T é de TRAVESTI OU PESSOA TRANSSEXUAL – diferentemente das letras anteriores, o T não se refere a uma orientação sexual, mas a identidades de gênero. Também chamadas de “pessoas trans”, elas podem ser transgênero (homem ou mulher), travesti (identidade feminina) ou pessoa não-binária, que se compreende além da divisão “homem e mulher”;
O I é de INTERSEXO – a pessoa intersexo está entre o feminino e o masculino. As suas combinações biológicas e desenvolvimento corporal – cromossomos, genitais, hormônios, etc – não se enquadram na norma binária (masculino ou feminino);
O + diz respeito às demais identidades de gênero e orientações sexuais que não se encaixam no padrão cis-heteronormativo, como assexuais e pansexuais.
Doe para a Causa LGBT
Nosso trabalho é fruto de um coletivo de militantes e ativistas que tem em sua atuação a ampla defesa das pessoas LGBTI+ e seus direitos humanos. Atuamos em rede em diversas organizações nacionais como a ABGLT, a ANTRA, a Aliança Nacional LGBTI+ e a Rede Nacional de Pessoas Vivendo e Convivendo com HIV/Aids.
Sua doação é fundamental pra continuarmos!
Por isso, necessitamos de financiamento coletivo para garantir o trabalho dos participantes, que muito trabalham prol da causa LGBTI+. Sem elus, toda nossa atividade e mobilização fica em risco!
É nesse sentido que contamos com sua ajuda!
Nossa luta não pode parar.
É uma escolha ser gay, lésbica, bissexual, travesti, pessoa trans, intersexo, entre outros?
Definitivamente não. A sexualidade de cada pessoa surge independente das referências, estímulos ou experiências que se possa viver. Portanto, se seu filho ou filha se entende como LGBTI+, não há razão para que ninguém se sinta culpado(a). É algo da natureza humana, que por muitos anos foi reprimido e condenado por valores religiosos, mas que hoje, felizmente, se entende como natural. Não há porque culpar seu filho ou filha, muito menos culpar a si mesmo, sua esposa/marido ou as companhias que seu filho ou filha possui.
Se na sua família há alguém que seja LGBTI+, acolha, demonstre que você está ali para apoiá-lo(a) e que independente de forma como ele se reconheça, você sempre estará ao seu lado. Acredite, o processo de se reconhecer como LGBTI+ pode ser muito difícil para algumas pessoas, que temem a rejeição da família, dos(as) amigos(as) e o preconceito da sociedade. Tornar esse processo ainda mais tumultuado, pode causar ainda mais dor e sofrimento à pessoa e à família.
Existe cura para quem é LGBTI+?
Ser LGBTI+ não é uma doença, logo, não há que se falar em “cura”. Infelizmente, por muito tempo as pessoas LGBTI+ era expostas à diversas formas de violência, inclusive por parte da família, sob o argumento de que essa pessoa precisava ser curada. Jovens gays eram levados à casas de prostituição, meninas lésbicas eram estupradas, pessoas trans eram internadas em clínicas psiquiátricas, entre outros horrores que provocavam danos profundos no psicológico dessas pessoas. Felizmente, em 17 de maio, em 1990, que a homossexualidade deixou de ser considerada uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Por que gays se chamam de viado e lésbicas se chamam de sapatão, mas eu, sendo hétero, não posso chamar?
Você certamente conhece algum time ou torcida que tenha incorporado um xingamento ou algum termo pejorativo, como mascote ou mesmo como uma forma de identificação. O que acontece na comunidade LGBTI+ é muito parecido com isso. Os termos “viado” e “sapatão” historicamente foram usados como forma de ofensa contra essa população, por isso, os movimentos sociais acabam por se apropriar desses termos como uma forma de se empoderar diante das violências cotidianas. Por isso, é comum gays e lésbicas se chamarem de viado e sapatão. Entretanto, se você é heterossexual e cisgênero, se referir a uma pessoa LGBTI+ por esses termos pode sim ser entendido como uma forma de homofobia ou lesbofobia, afinal, somente pessoas LGBTI+ sentem na pele a dor dessas violências. Por isso, se a pessoa não deu a liberdade para você chamar ela dessa forma, o melhor é fazer é não utilizar esses termos para se referir a ela.
Combater a LGBTIfobia vai estragar o futebol?
De forma nenhuma! Você não precisa utilizar termos LGBTIfóbicos para expressar seu descontentamento com um jogador, com um árbitro ou dirigente do seu time. Como torcedor, você tem o direito de exigir uma boa gestão do seu time, tem o direito de cobrar uma arbitragem isenta e ética e tem o direito de cobrar um bom desempenho dos atletas, entretanto, você não tem o direito de ofender outras pessoas para fazer essa cobrança. Aliás, a própria CBF tem punido times onde ocorram casos de LGBTIfobia dentro ou fora de campo. Por isso, combater esse tipo de violência pode inclusive evitar que seu time sofra algum tipo de punição. Além do mais, quanto maior for a torcida do seu time nos estádios, mais força você dará ao seu time dentro de campo. Portanto, todos ganham num ambiente sem LGBTIfobia. Agora que você conheceu um pouco mais sobre o que é ser LGBTI+ e como o preconceito afeta a vida dessas pessoas, você pode apoiar nossa campanha conversando com seus amigos e compartilhando essas informações com outras pessoas. Afinal, o conhecimento e a informação ajudam a mudar nossa visão do mundo e da sociedade em que vivemos. Muito obrigada pela sua leitura e junte-se a nós no combate à LGBTIfobia nos estádios, afinal, A PAIXÃO NOS UNE, O RESPEITO NOS FAZ GIGANTES!